Monday, November 07, 2005

Exclusão Social

Tendo constatado que em "pensar ansiães" se têm manifestado, recentemente, algumas preocupações em forma de comentário acerca da problemática cigana, proponho-me deixar aqui um pequeno e despretencioso texto relacionado com o grupo minoritário em questão.
A etnia cigana é uma das minorias étnicas mais numerosas em Portugal. Os dados estatísticos que apontam para um número entre 20 000/30 000 ciganos existentes no nosso país, só nos dão uma ilusão de precisão, já que, como teórica e oficialmente, são cidadãos de pleno direito, identificados nos censos como portugueses e não como ciganos!
Relembre-se, a este propósito, que a presença em território português de grupos etnicamente identificados como ciganos (desde o séc.XV), constitui o grupo étnico com o qual temos experiências de convívio directo há mais tempo. No entanto, pelas condições de exclusão que quase sempre tiveram que enfrentar, na sua maioria, estes indivíduos encontram-se numa situação de desvinculação estrutural face ao mercado formal de emprego, e com fortes ligações à chamada "economia da delinquência".
De notar, a elevada incidência de analfabetismo nesta etnia, do absentismo escolar, do estigma do insucesso e do abandono precoce do sistema de ensino, mas também da não existência de tradição de trabalho assalariado, da assunção de uma atitude de retraimento ao nível da participação sócio-política. Tudo isto tem tradução directa num estatuto marginal face aos benefícios do Estado, em matéria de segurança social, educação, emprego e habitação.
A par disto, a pertença a um grupo etnicamente minoritário, estruturado por um quadro de valores próprio, por um modo de ser e estar diferente da maioria dominante, gera fenómenos de estigmatização social entre os dois grupos, criando por parte do grupo maioritário, tendências estratégicas de fechamento em defesa da sua sobrevivência social e cultural, com todos os riscos de guetização e de manifestações de racismo e de xenofobia que em situações extremas se podem gerar, como se pode verificar acualmente nos bairros conturbados das principais cidades francesas. Só que aqui, em meu entender, há um equívoco: a reacção social destes grupos minoritários não tem que ver directamente com o fenómeno migratório, pois trata-se de indivíduos de segunda ou terceira geração, isto é, são realmente cidadãos franceses, com todos os direitos inerentes à sua cidadania (podem votar, etc.). Do que se trata, não será tanto de um problema de integração, mas sim de assimilação da sua própria cultura a todos os níveis (políticos, religiosos, étnicos...).