Saturday, December 31, 2005

derradeiro poema

quando eu morrer, amor
não ponhas luto

não rezes
não chores
não me lamentes

não vás visitar a minha sepultura
nem ponhas lá flores
(mesmo que sejam as mais bonitas)


quando eu morrer, amor
põe-me nas mãos
nas mãos frias e rígidas,

um POEMA

um POEMA apenas

mas que me faça chorar de DOR!

os pobres

iguais às pedras do caminho

que levam pontapés

de toda a gente,

são os POBRES - pobres de TUDO-

que não têm sequer a noite

para disfarçarem o frio das lágrimas

que sempre sobram



contudo,

também eles -os pobres de tudo-

DÃO PONTAPÉS NAS PEDRAS ...

Monday, December 26, 2005

poema urgente

a vida é um sorvo
num cálice de felicidade

serve-se bem quente
(à temperatura do amor)

assim se encontra o corpo

no corpo

poema urgente

a vida é um sorvo
num cálice de felicidade

serve-se bem quente
(à temperatura do amor)

assim se encontra o corpo

no corpo

Tuesday, December 06, 2005

é certo que o planeta já é cada vez mais apertado para os bichos que o habitam. procuram-se agora novas fugas para o cosmos mas tudo é noite para as tecnologias cada vez mais febris na ânsia de encontrar a luz de um fósforo num qualquer buraco negro do abismo. vislumbram-se pulsares, quazares e outros azares mas tudo continua a ser negro porque a centelha jamais acenderá. nós, os bichos, lá nos vamos entretendo com as máquinas possíveis nos afloramentos dos vizinhos mais próximos do nosso sistema solar, isto é, do sistema que um dia nos deu vida para nos multiplicarmos em bandos de biliões numa nesga de terra e muito mar. é certo que o planeta já é cada vez mais apertado para os bichos que o habitam. ainda agora o disse. e muitos de nós o dizemos, principalmente os que nos julgamos mais sábios, intelectuais, artistas e essa bicharada toda. e, no entanto, continuamos todos à lambada pelas ruelas deste pequeno globo onde grassa a nossa pobre e efémera existência. gostamos de ver o nosso sangue molhando a terra. ah! sim, o nosso sangue, o nosso e o dos nossos irmãos bichos espalhados em tocas, com fronteiras e tudo, a que chamam países! e nada melhor que uma guerra, algures, para se ver a cor do sangue dos bichos. puseram-lhe o nome de vermelho. pois, o sangue dos bichos terrestres é vermelho. VERMELHO. nada melhor do que as guerras. os bichos guerreando-se por nada, porque nada é de ninguém. e quanto mais sangue houver mais inteligente se julga o bicho humano que é bem mais estúpido que os outros bichos que nós pisamos com nossos pés artificiais (ao menos eles andam descalços, para sentirem melhor a terra que os alimenta!). um dia, o planeta será inundado de sangue, cobrindo a terra com lençóis de vermelho vivo e tingindo as águas com outras tonalidades de morte. depois, não haverá ninguém para mostrar um deus, o deus da toca (com fronteiras e tudo) de cada um. nem sequer zaratustra sobrou, o único super-homem do frederico (o nietzsche - ele próprio se pôs louco e exterminou-se). o planeta é cada vez mais apertado e a culpa é nossa, que o cuspimos todos os dias para o cosmos com línguas de fogo transformadas em espadas! pobres bichos humanos que nos esquecemos de que o tempo é linear, sem princípio nem fim (sem ano novo nem ano velho) e que na mais ínfima fracção deste tempo que nos é dado sorver, ousamos matar o AMOR!
H. R.